segunda-feira, julho 23, 2012

LIVROS DIGITAIS OU NÃO, EIS A QUESTÃO...

Como eu já disse em outro texto, eu sou viciado em livros e tenho um armário cheio deles para provar, além de diversas revistas e quadrinhos. Adoro o cheiro de livro novo e de alguns velhos, adoro tocá-los, o som que fazem quando se folheia as páginas rapidamente, o design e o privilégio de se possuir algumas edições raras. Meu sonho é um dia ter uma biblioteca com estantes decentes para exibir meus livros ao mundo (bem, pelo menos a parte dele que for à minha casa). O grande problema em se ter muitos livros é o espaço físico necessário para guardá-los. E há ainda aqueles que você sabe que nunca mais irá ler, mas insiste em guardar por razões sentimentais.

Também sou fissurado em treconologia e nada melhor do que uma bugiganga que une a tecnologia com a leitura, ainda mais com a quantidade enorme de livros digitais que se pode encontrar por aí. Desde que eu ouvi falar do e-ink, eu fiquei fascinado com essa tecnologia e após a criação do kindle, o leitor de livros digitais da Amazon.com, ele passou a ser um de meus sonhos de consumo.

Meus primeiros contatos com livros digitais ocorreram por volta de 1991, 92, na biblioteca da Escola Técnica Federal de Campos (Atual IFF), onde havia disponível uma revista literária mensal em CD-ROM que a cada mês disponibilizava um livro completo de um autor clássico. Quando eu passei efetivamente a fazer parte da rede mundial de computadores, em 1998 (Na época, o navegador mais usado era o Netscape Navigator e a ferramenta de busca mais acurada era o Altavista), na UENF, que disponibilizava acesso à internet a seus alunos, fiz contato com livros em HTML, DOC, TXT e RTF. Era possível guarda-los em disquetes (que rapidamente ficavam impossibilitados) ou em anexos de e-mail. Era possível imprimi-los, prática que se revelava desvantajosa, devido ao preço do papel e da tinta. Era possível ler esses livros na tela. Embora muita gente consiga até hoje fazer isso, foi algo ao qual eu nunca me habituei.

Anos mais tarde, surgiu um dos melhores formatos para se ter e ler livros digitais, o PDF. Ele permite que se mantenha a formatação original dos livros, dá para se copiar os textos, se o texto não estiver protegido, e atualmente dá para se fazer marcações e notas salváveis no próprio documento. Recentemente, surgiram vários outros formatos digitais de livros, como o EPUB, LIT, MOBI, etc. Com a evolução da tecnologia, também surgiram novos meios de armazenamento de arquivos digitais, com maior capacidade de espaço, mais duráveis e confiáveis, como CDs, DVDs, HDs externos e pen-drives, além das diversas opções de armazenamento pela internet. Também evoluíram os modos de se ler esses arquivos.

Além dos notebooks e desktops, atualmente há uma gama enorme de aparelhos onde se pode ler arquivos digitais. Eu comecei a ler, pra valer, livros digitais durante minhas viagens a trabalho, quando estava lendo “A Storm of Swords”, terceiro livro da excelente série “A Song of Ice and Fire”, do George R. R. Martin. Como muitas vezes o ônibus onde eu estava não tinha iluminação (mais uma das vantagens de se viajar pela Viação 1001), quando caia a noite eu trocava a leitura do livro físico pelo digital, através de um dos muitos aplicativos de leitura no iPod, o Stanza (Há vários outros, como CloudReaders, iBooks , Kindle, etc.). Para não cansar os olhos devido à luminosidade excessiva, muitos desses aplicativos ainda contam com a opção de leitura noturna, onde o fundo fica escuro e apenas as letras estão iluminadas. Posteriormente, eu adquiri um iPad e passei a ler alguns livros digitais nele. Grande parte da leitura do livro seguinte da série do Martin, “A Feast for Crows”, foi realizada utilizando essas várias opções, além do livro físico. Em algumas viagens, por questão de volume da bagagem, eu já nem levava mais o livro físico, já que eu teria que levar o iPad também por motivos de estudos.

A decisão de comprar um Kindle, embora latente, foi decisiva a partir do momento em que eu comecei a ler o 5° livro da série, “A Dance of Dragons”. O livro havia acabado de ser lançado, só havia a edição capa dura, uma belezinha de mais de mil páginas e quase 2 kg, algo pouco prático de se levar para qualquer canto, como eu fazia com as edições anteriores em brochuras (ou paperbacks). E não havia previsão de quando a versão paperback seria lançada. Comecei a ler no iPad, que não é a melhor das opções para se levar para cima e para baixo, depois no celular Android (na ausência do Stanza, tentei o aplicativo Moon+ Reader e o Aldiko) e no iPad. A oportunidade de comprar um Kindle surgiu quando a avó de um amigo meu foi para os EUA. Dá para comprar pelo Amazon.com para entrega no Brasil, mas os impostos e a taxa de envio tornam a tarefa impraticável.  Comprei um Kindle Touch a $ 99,00, com wi-fi e com anúncios e ofertas especiais (eles só aparecem quando não se está lendo, não atrapalhando a leitura em momento algum). Com o IOF no cartão, saiu a R$ 216,00. Há a opção de comprar um Kindle sem toque na tela, com e sem anúncios ($79,00 e $109,00, respectivamente) um Touch sem anúncios ($ 139,00) e com 3G, que também funciona por aqui ($ 149,00, com anúncios, e $ 189,00, sem). Há outras opções, com teclados.

A Amazon.com já anunciou que pretende vender, quando abrir sua filial por aqui, a versão normal, com anúncios e ofertas especiais, a aproximadamente R$ 200,00. Isso se a tarifação brasileira não colocar o seu preço lá em cima, como é comum com qualquer eletrônico que venha para cá.

Vantagens e desvantagens de leitores Digitais

Apesar de existirem outros leitores de livros digitais, como o Nook, o Kobo e o Sony Reader, da mesma forma que existem outros tablets, relato aqui a minha experiência com aqueles que eu possuo e que eu mais utilizei. Tenho um celular com Android que também possui aplicativos para leitura de livros, mas como eu quase nunca o uso, já que a bateria vai embora, não vou me aprofundar. E o que vale para o iPod, vale para o iPad.

iPad

A maior vantagem do iPad é que ele permite a leitura de praticamente todos os formatos de livros digitais existentes por meio dos vários aplicativos para esta finalidade. Muitos permitem a leitura noturna, diminuição do brilho na tela, marcação e anotações, mudanças de tipos e tamanhos das fontes, além de leitura de arquivos CBR e CBZ, específicos para Histórias em Quadrinhos. E o tamanho da tela é ótimo para leitura, principalmente de livros e artigos no formato PDF (praticamente, não imprimo mais material de estudo. Leio todos pelo tablet). O iPad também é excelente para a visualização de revistas, principalmente aquelas desenvolvidas para visualização neste meio, com vídeos e áudios, ou em PDF.

As desvantagem do iPad para leitura são sua tela de LED, que depois de um tempo incomoda os olhos devido à luminosidade, além de ser muito reflexiva, atrapalhando a leitura em ambientes muito iluminados; a duração da bateria, de apenas algumas horas; o peso de 750 gramas, que não permite que se segure por muito tempo com uma só mão e, aliado ao seu  tamanho, 239 mm x 186 mm,  não é muito prático de se carregar e nem para se ler na cama.

Kindle

O Kindle é (quase) tudo de bom. O que deve se dizer, em primeiro lugar, é que não é um tablet. É leve (220 g), tem um tamanho ideal para se segurar e fácil de carregar (Cabe facilmente nos bolsos da calça), permite o armazenamento de alguns milhares de livros e a sua organização em categorias específicas, criadas pelo usuário. Para quem tem o costume de ler mais de um livro de uma vez ou muitas vezes tem que viajar com dois livros, já que está terminando um e prestes a começar outro, isso é ótimo .

A tela não possui iluminação e é em preto & branco, o que permite um conforto visual mais próximo à leitura do papel. Apesar de anunciarem uma duração de bateria de até 2 meses, com o wi-fi desligado, normalmente a minha não dura mais de uma semana (sic).

Apesar da tela ser um pouco reflexiva, dependendo do ângulo que se segure, ele é ótimo de se ler em ambientes iluminados, principalmente sob a luz do sol. É ótimo de se ler enquanto se come ou se está de pé no ônibus (às vezes, dependendo do tamanho do livro, é difícil virar as páginas sem se desequilibrar; e um iPad é grande e pesado, podendo só ser lido quando se está sentando e, ainda assim, algumas vezes é difícil encontrar uma posição adequada).

Os formatos aceitos pelo aparelho são o AZW proprietário, TXT, PDF, MOBI sem proteção. Essencialmente, apenas o MOBI e o AZW tem uma boa visualização.  Ao se comprar um Kindle, a Amazon automaticamente cria uma conta de e-mail para onde se pode enviar arquivos nos formatos PDF, HTML, DOC, DOCX, JPEG, GIF, PNG BMP, que serão convertidos gratuitamente para o AZW (Se no assunto estiver escrito a palavra “convert”. De outro modo, ele vai enviar o arquivo original para a sua nuvem). Os livros para Kindle comprados na Amazon.com e convertidos e/ou enviados para o e-mail associado ficam vinculados a sua conta, o que permite a sua consulta em outros dispositivos, como computadores, celulares, tablets e iPods, desde que estes possuam instalado o aplicativo Kindle. Há sincronização entre eles (desde que se tenha acesso à internet) e praticamente todas as anotações, marcações e posição de leitura (dá para se fazer “orelhinhas” nas bordas da página) são atualizadas entre os aparelhos.

Lembrando que quanto mais elaborado e complexo o PDF (com muitas colunas, gráficos, fontes diferentes, etc.), maior a probabilidade do arquivo convertido chegar com a formatação bagunçada. Normalmente, a conversão de textos sem muitas firulas é bastante satisfatória, sendo que parágrafos e espaços entre linhas muitas vezes somem, mas dá para ler numa boa. 

Há a opção de se marcar ou sublinhar textos e acrescentar notas, que podem ser salvas no formato TXT, ao se conectar o aparelho a um computador. Estas podem ser compartilhadas, também. E todas as notas, assim como as marcações de páginas, ficam disponíveis no índice de capítulos.

Há vários livros disponíveis para compra na Amazon.com, inclusive em português (comprei Sherlock Holmes - Edição Completa, da Editora Agir, cuja edição física, fora de catálogo, custava quase R$ 150,00, a apenas $5,42). Há vários livros, principalmente clássicos, grátis ou em edições completas com anotações com preços que variam entre $ 0,99 e $ 4,99. Muitos livros, principalmente best-sellers, podem ser encontrados a preços módicos, embora atualmente, por imposição de várias editoras, muitos deles estão saindo ao mesmo preço ou até mais caros do que os livros físicos (a Apple Store também está sofrendo com o mesmo problema. Depois reclamam da pirataria...). Após a compra, o livro é carregado automaticamente no Kindle ou dispositivo em segundos! E há ainda a possibilidade se de baixar amostras dos primeiros capítulos de vários livros.

Dá para se baixar muitos livros, legal e ilegalmente, pela rede, além de jornais e revistas. Um dos principais sites para livros gratuitos é o Project Gutenberg, onde há obras completas de domínio público, incluindo de autores brasileiros e portugueses. Um dos formatos disponibilizados para cada livro é o MOBI. E alguns livros comprados ainda podem ser “emprestados” entre aparelhos, por 14 dias (prazo normal de biblioteca, né?).  

- Desvantagens


Há alguma? Tem, sim senhor.

Não há números de páginas e sim posições e porcentagem de leitura. Para eu, que estou acostumado a visualizar o quanto falta para ler pela posição de onde estou ou que gosta de saber qual é a extensão de um livro pelo número de páginas, isso é um pouco chato, mas nada com que não se acostume.

Bom, nunca aconteceu, mas há o risco de se acabar a bateria no meio da leitura.

São poucas pessoas, como Liesel Meminger, que tem a compulsão de roubar livros, mas com um aparelho eletrônico, ainda mais um que lembra um tablet, as coisas podem ser diferentes.

Se um livro cair, poucas vezes sofre algum dano sério (a não ser que seja um dia de chuva e você esteja no meio da rua). Já o Kindle, dependendo de sua sorte, pode dizer adeus.

É um pouco chato, se quiser voltar algumas páginas ou consultar um capítulo anterior. Se você souber o texto ou tiver marcado a posição, pode usar o mecanismo de busca ou o índice, mas se não, tem que retornar página por página ou capítulo por capítulo.


Conclusões

Não acredito que o livro de papel desaparecerá como algumas pessoas preveem, mas é fato que sua produção diminuirá bastante, ainda mais no momento em que isso se tornar vantajoso para as companhias (diminuição de custos com transporte, produção, etc.). Em 2010, a Amazon.com havia anunciado que as vendas de livros digitais estavam superando em quase 100% a de impressos e a cada ano que passa, as vendas aumentam cada vez mais. É óbvio que no futuro o papel do papel mudará drasticamente e os livros provavelmente se tornarão artigo de luxo. Bem, veremos. 

Não vou entrar na discussão se o livro de papel é ou não melhor do que o livro eletrônico. Eu também gosto muito de papel, mas eu gosto muito mais de ler. E o kindle me permite uma ótima experiência de leitura. E o fato de eu ter um Kindle não significa que eu vá parar de comprar livros físicos nem que vá me desfazer daqueles que eu tenho, mas com certeza, vai me permitir ser mais seletivo do que eu comprar. Eu gosto da ideia de ter uma estante com os livros que eu amo e que eu possa deixar de herança para o meu filho.

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