segunda-feira, julho 08, 2013

COISAS QUE EU TENHO LIDO - O OCEANO NO FIM DO CAMINHO, DE NEIL GAIMAN


Sempre é difícil definir Neil Gaiman. Seus livros estão na categoria que se convencionou chamar de Fantasia, na falta de um termo melhor. Sim, são fantasia, mas normalmente isto é apenas um detalhe da história, que são muito mais profundas e com diversas camadas de complexidade. De certa forma, ao ver os primeiros anúncios de “O Oceano no Fim do Caminho”, eu esperava ansiosamente por um repeteco de “Deuses Americanos”, seu penúltimo romance e, na minha humilde opinião, sua obra-prima. Felizmente, tal desejo não foi atendido.

Gaiman descreve o seu romance do seguinte modo: "É uma história sobre magia, o poder das histórias e como enfrentar a escuridão dentro de cada um de nós. É sobre medo, amor, morte e famílias. Mas fundamentalmente espero que, na essência, seja um romance sobre sobrevivência". Essencialmente, na história, somos apresentados a um homem adulto que, em um momento difícil de sua vida, retorna a um cenário familiar da infância, onde recorda de uma série de eventos que lhe aconteceram quando criança, aos sete anos, quando foi apresentado a um mundo ao mesmo tempo estranho e perigoso. Tudo começa quando um homem, inquilino em sua casa, se mata no carro da família no fim da rua, despertando forças primevas que passam a agir no que até então era um subúrbio pacato. Próximo ao fim da rua, vive três gerações de mulheres, a menina de 11 anos Lettie Hempstock, sua mãe Ginnie Hempstock e sua avó, a Srª Hempstock. Quando o narrador é diretamente ameaçado por um aspecto dessas forças, sem que seus pais percebam, são as Hempstock que vêm em seu auxílio, com consequências inesperadas.

Somos apresentados a uma realidade que se oculta a olhos vistos dentro da nossa, a oceanos que cabem em um pequeno lago e a mulheres que talvez sejam mais velhas que o mundo e o universo (ou do que quer que tenha vindo antes). Em determinado momento do livro, o narrador tem um momento de elucidação, onde conclui: “Eu vi o mundo no qual andara desde o meu nascimento e compreendi sua fragilidade, entendi que a realidade que eu conhecia era uma fina camada de glacê num grande bolo de aniversario escuro revolvendo-se com larvas, pesadelo e lama”.

O narrador enquanto criança, apesar de apresentar uma maturidade adquirida pelo hábito de leitura, é uma criança normal. Ele dorme de luz acesa e com a porta entreaberta. Ao contrário de seus heróis literários, ele não sabe o que fazer na maioria das vezes e se apavora facilmente, principalmente quando se julga indefeso. Ainda assim, enfrenta a tudo com uma certa naturalidade e uma coragem resignada. A antagonista não é inteiramente maligna e é possível até sentir pena dela, em algumas ocasiões. E mesmo sabendo que o protagonista vai se sair bem, não se deixa de se sentir um pouco de medo pelo protagonista. Afinal, a gente sabe que ele vai se salvar, já que narra memórias de infância, mas qual será o custo disso?

Há vários paralelos deste livro com outros de Gaiman, principalmente com Coraline. Ambos tratam de crianças que entram, meio sem querer, em mundos invisíveis aos olhos de adultos; ambos tem como antagonistas mulheres, que de um jeito ou de outro, tem a intenção de substituir um ente querido. Figuras femininas com o nome Hempstock aparecem em outras obras de Gaiman, como Stardust e O Livro do Cemitério.

O texto de Gaiman continua gostoso de se ler, pegando o leitor pelo pé e só soltando-o quando se termina o livro (mas com aquela vontade de retornar aquele universo vez e outra). Gaiman também é um escritor notório por ter livros infantis que podem facilmente ser lidos e aproveitados por adultos. Apesar deste ser um livro para adultos e possuir uma ou duas cenas mais pesadas, acaba tomando o caminho oposto: pode ser lido por crianças ou pela criança interior dentro de cada adulto.


O Oceano no Fim do Caminho/ The Ocean at the End of the LaneAutor: Neil GaimanEditora: Intrínseca/William Morrow (Harper Collins)
Número de Paginas : 205/192
Ano: 2013
Onde encontrar: Livrarias (livros físicos) e lojas virtuais da Livraria Cultura e amazon.com.br (livros digitais).

GRAPHIC NOVEL # 3 - TURMA DA MÔNICA: LAÇOS, DE VITOR E LU CAFAGGI



Há alguns anos atrás, eu não me imaginava comprando algo da Turma da Mônica novamente. Durante a minha infância e parte da adolescência, eram leituras obrigatórias. Tive muitos bons momentos com os personagens criados por Mauricio de Souza. Porém, depois de um tempo, o encanto acabou. Não achava mais as historias tão engraçadas, era tudo muito repetitivo ou achava que as que eu li quando criança eram melhores. Talvez o problema tenha sido um só: eu estava crescendo.


Então, vinte anos e poucos anos depois, graças ao trabalho zeloso do Sr. Sidney Gusman, eu me vejo na situação (agradável) de voltar a ler historias com esses personagens. Primeiro, com a idealização e realização dos especiais MSP, em comemoração aos 50 anos de carreira do Mauricio de Souza, depois com Ouro da Casa e em seguida o projeto Graphic MSP, que foi inaugurado com o espetacular Astronauta – Magnetar, do Danilo Beyruth. 

Turma da Mônica – Laços é o segundo volume dessa série de Graphic Novels estrelando os personagens da Mauricio de Souza Produções. Nela, a Mônica, Magali e Cascão turminha se unem ao Cebolinha e, seguindo um de seus planos infalíveis, partem em uma missão com o objetivo de encontrar o cachorro de estimação deste, o Floquinho. Dá quase para ouvir em off que uma voz anunciando que “essa turminha do barulho vai se meter em altas confusões”. 

Arte de Vitor Cafaggi. 


O sentimento que me dominou enquanto eu lia Laços era nostalgia. Sim, em parte nostalgia pelo retorno dos personagens com quem eu convivi grande parte de minha infância. Alguns trechos, cenas e easter-eggs remetem diretamente àquelas aventuras antigas que li quando criança (E genial a explicação do porquê parte da galera anda descalça). O restante da nostalgia é em função das referencias aos vários clássicos da Sessão da Tarde e cultura pop dos anos 80. Além disso, é uma história emocionante. Quem teve cachorro ou amigos inseparáveis quando criança vai se identificar fácil. Há aquela mistura de fantasia e realidade, típica de nossa infância. E quem nunca teve vizinhos que eram seus melhores amigos, mas com quem de vez em quando trocava socos ou “ficava de mal”? Ou inventava planos mirabolantes? Ou com quem de vez em quando tinha uma grande aventura? 


Arte de Lu Cafaggi. 

A arte do álbum é simplesmente linda, linda, linda (já falei que é linda?). Eu já conhecia alguma coisa do trabalho de Vitor Cafaggi, através do seu antigo projeto Puny Parker e de algumas tiras de Valente (confesso, li ambos muito pouco. Como desculpa, digo que pretendo remediar isso em breve). Sua história “Minha Visão Favorita”, que aparece em MSP por 50 Artistas, é uma de minhas preferidas do álbum. E a arte de Lu Cafaggi também não fica para trás. É ela quem desenha os flashbacks, como o que abre a edição, quando Cebolinha é apresentado ao Floquinho, ou quando Mônica conta um evento da infância de seu pai. Não tenho outro modo de definir a sua arte por outro termo que não seja a palavra “fofura”. Senhor e Senhora Cafaggi (Ou Senhorito e Senhorita Cafaggi), o meu muito obrigado por existirem e por dividirem essa declaração de amor com o mundo.

Os autores. 

O grande defeito da Graphic Novel é que ela chega ao fim (por mim, poderia ter continuações. Que tal?). Quando se chega à ultima página, dá vontade de imitar o Cascão e dizer, me fingindo de forte, “doeu, mas você viu que eu não chorei”. 


Turma da Mônica – Laços
Autores: Vitor e Lu Cafaggi
Editora: Panini Brasil
Número de Paginas : 82
Ano: 2013
Onde encontrar: Nas bancas (por enquanto) e livrarias.